NEURITE DO CICLISTA
Durante a pandemia, o afastamento das pessoas de suas atividades habituais, fez com que o desejo de fazer atividade física se tornasse muito maior que antes. Isso refletiu em vários ramos da sociedade. No mundo todo, o ciclismo virou uma febre. Sim, eu sei que o esporte cresce há alguns anos. Mas procure aí na sua cidade uma BIKE para comprar e vai se deparar com uma escassez de peças e equipamentos e uma alta nos preços. As ruas e estradas estão tomadas de novos ciclistas.
O BOOM do ciclismo também se refletiu nos consultórios de ortopedistas. Quedas, lesões musculares, neurites. Hoje, vou falar aqui sobre a “NEURITE DO CICLISTA” – também conhecida como “PARALISIA DO CICLISTA”.
Para se ter uma ideia, na avaliação de ciclistas em provas de grande performance, cerca de 92% experimentam alguma perda de força ou dormência nas mãos – sintomas relacionados alterações neurais; para ser mais claro, compressão de NERVO. Quando ampliamos a análise para ciclistas em geral, isto é, não só os profissionais, encontramos que 31% sentem dor, perda de força ou dormências nas mãos.
O mais comum é que exista compressão no nervo ulnar, numa região anatomicamente conhecida como Canal de Guyon. Isso acontece por pressão e vibração constante, no punho, que geralmente está em hiperextensão, por tempo prolongado. Falando de forma mais clara, ao passar do punho para a mão, o nervo vai ficar esmagado e esticado. Assim, ocorrerá fraqueza na mão, dor, formigamento ou até anestesia no dedo mínimo e na metade do dedo anular.
Um bom exame clínico é suficiente para esclarecer a origem dos sintomas. Na maioria das vezes, a diminuição da atividade esportiva, a readequação da posição das mãos e punhos durante o uso da BIKE, o uso de luvas apropriadas e a redução do peso sobre as mãos no guidão são suficientes para o alívio dos sintomas.
Casos persistentes podem necessitar de tratamento medicamentoso e investigação com um exame chamado de eletroneuromiografia - que estuda como está a condução de "eletricidade" através dos nervos! O tratamento cirúrgico com descompressão do nervo é exceção.
Para melhorar a compressão da anatomia e função do nervo, vou falar mais um pouquinho...
Pensando de uma forma simplista, um nervo carreia “eletricidade”! Mas não de uma forma grosseira como um fio de cobre. É de uma forma delicada, como uma fibra óptica. Essa eletricidade vai funcionar para 2 propósitos:
1º) Fornecer sensibilidade / tato. Quando tocamos em algum objeto sentimos porque um nervo sadio, carreia esse estímulo.
2º) Permitir que um músculo funcione. Entenda o músculo como um motor e o nervo como o condutor de eletricidade para esse motor.
Sem eletricidade, o motor não irá funcionar! Ou seja, os músculos não irão se contrair. Por isso existe fraqueza na mão.
Sem eletricidade, a sensibilidade (o tato) fica prejudicado. Por isso, existe dormência (formigamento) nas mãos.
Mas na NEURITE DO CICLISTA, a interrupção da eletricidade não é total. É um processo gradual e parcial. É como se alguém colocasse o pé sobre uma mangueira de jardim, com força. Pode passar um pouco de água, mas está longe do normal. Traduzindo: há fraqueza na mão, mas não perda total da função dos músculos; há dormência nas mãos, mas não anestesia!